21 de fevereiro de 2010

Medo de envelhecer



Não me venham com tretas a dizer que 75 anos é uma idade bonita.
Vivemos numa época em que se tenta combater a velhice com todas as armas possíveis (sorte dos cirurgiões plásticos!) e onde os idosos são apenas vistos como um fardo.
Também eu sou parte integrante dessa geração que tem medo de ser velho. Não são as rugas nem a osteoporose que receio, é a indiferença dos outros, o apenas sentir-me feliz quando fizer algo de útil. Viver numa angústia desmesurada sem já poder contar com o meu cônjuge. Ficar num lar à espera da morte, nadando horas nas recordações das glórias passadas, sem ninguém que me visite ou telefone.
Parece-me que agora, enquanto jovem, é mais fácil ultrapassar a solidão: ainda palpito esperança por tudo o que é caminho a rasgar. Mas (quase) ninguém faz projectos de vida para depois dos 35 anos, e a consequência é chegar-se lá sem objectivos, apenas com frustrações dos sonhos que não se realizaram (e que, devido a diversas condicionantes, são agora impossíveis de se concretizarem).
Resta o quê, aos 75 anos? A degradação física e racional acentua-se a partir desta idade. Não me consigo imaginar incapaz de andar cinco minutos sem me cansar, ou a babar-me pelos cantos dos lábios, sem conversa que faça qualquer lógica. Cenário cruel? Para mim sim, e muito, daí que só de o imaginar me arrepio.
Não seria preferível morrer-se mais cedo?


texto integrante do projecto «Fábrica de Letras» (clique no link da barra lateral direita)

3 comentários:

  1. Só até aos 35? E logo assim a partir dos 75?

    Concordo, mas mais tarde em ambos os períodos.

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  2. Tenho 46 anos e muito mais para dar que tinha aos 25, não duvides. Tenho uma experiência que me ajuda e ajuda os outros, tenho a calma que só a idade dá e o conhecimento de anos de experiência. Tenho sonhos, objectivos e desejos. Não estou a morrer estou a renascer de dia para dia. Nós temos que saber viver sem desespero. É inevitável que envelheças e até poderás acabar só. Tens é que saber estar só, mesmo hoje. Ninguém deve nunca viver a contar com os outros porque terá uma vida triste. Os outros têm a vida deles e tu tens que saber viver por ti. Gostar de estar contigo. O que me atormenta é mesmo a incapacidade porque estar só, porem-me de lado não me preocupa. Gosto de estar só, de estar comigo, de que não incomodem o meu pensamento. Não gosto de ser perturbada. Dou-me muito bem comigo e é isso que tu tens que aprender: a dares-te bem contigo e com o mundo esteja ele a teu lado ou contra ti.
    Beijinhos

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  3. Quando somos novos, parece que somos velhos aos 75 anos, depois conforme vamos avançando na idade parece que essa linha vai ficando cada vez mais disfarçada. Lembro-me de em criança achar que a minha mãe com 40 anos era velha e agora tomara eu que a minha avó que fez este ano 80 ainda esteja cá alguns anos connosco porque felizmente está de boa saúde e não é fardo nem nunca será para nós.

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