16 de junho de 2011

Countdown - isto e aquilo

A maior parte dos meus dias é vivida na sombra. Durante anos a fio, foram caindo sobre mim expectativas e mais expectativas, dizendo-me que tinha muito talento e que não me restaria outro caminho senão o do sucesso. Esta pressão tão avassaladora e a fasquia tão alta que coloquei a mim mesma fizeram-me, inevitavelmente, falhar.

Desisti de mim sem oferecer qualquer resistência e mergulhei num abismo em que pegar numa simples esferográfica era fonte dos mais tenebrosos receios. Iria ser sempre pior que na vez anterior, para quê tentar? Não valia a pena, era um esforço em vão.

Até que, depois, veio-me isto. Há mais de um ano que não me surgia. Primeiro, foi-me obrigando a escarvar o lixo dos últimos meses. De seguida, penetrou-me com toda a brutalidade possível, diluiu-se furiosamente em cada átomo meu.

- Pára de choramingar! Pára de ter pena de ti mesma! – gritou-me. – O futuro será sempre mais negro, sim, mas de que serve desistires?... Faz a pergunta mágica...

- Pergunta mágica? Que pergunta é essa?

Reflecti um pouco. Tentei lembrar-me do que tinha despoletado isto anteriormente. A pergunta é: “Que queres?”.

Quero... Quero experimentar aquilo que ainda não experimentei, continuar com as coisas que me dão prazer e fazer tudo o que já fiz e que já me soa irremediavelmente perdido! Enfiar a colher na crosta dura do pudim, sentir a tinta fresca numa tela, pisar os trevos húmidos ao amanhecer, cheirar os refogados da minha mãe! Enterrar os pés na areia molhada, saltar o mais alto que conseguir, ter uma guerra de balões de água! Sujar-me na terra fofa, calçar umas sapatilhas de ballet, disfrutar do silêncio de um bom livro, provar os lábios da minha musa! Quero devorar livros e livros e mais livros! Escrever, escrever, escrever, escrever até me doerem os dedos, escrever até à exaustão (por vezes, até consigo arriscar um verso, vejam lá)!

Sinto em mim a urgência de lutar contra as quadrículas do calendário! Estou eufórica, furiosa com esta inércia que me adormeceu durante tanto tempo, quero viver! Deixar arrumados numa gaveta ódios e rancores, dedicar-me exclusivamente à deleitosa tarefa de amar!

Amar-me a mim, a ti, a nós, a todos os que conheço e aos que nem faço ideia que existem! Quero pertencer a todos e não ser de ninguém, não desejo outra coisa senão abraçar a Humanidade inteira!...

Até aquilo regressar.

14 de junho de 2011

Por mais voltas que dê à cabeça, ainda não consegui decifrar o teu olhar.

Foi tímido, hesitante, lânguido. Pareceu concentrar nele ódio, raiva, inveja, desejo...
Esse desejo que há tanto nos desfaz, e que me recuso a consumá-lo - ao menos, na minha mente, será sempre perfeito...

Um dia fui a mulher da tua vida.

Se já não mereço esse título, então já não há mais nada a dizer.