Talvez deva iniciar isto com um pedido de desculpas. Tenho perfeita noção do quanto te desiludi... Fiz-te demasiado mal, eu sei, e os anos que perdeste comigo não voltarão nunca atrás…
Eu envelheci muito nos últimos tempos. As olheiras tornaram-se residentes, o cabelo enfraqueceu, o corpo ficou flácido e as rugas entorpeceram as feições do meu rosto. O meu olhar perdeu o brilho pelo qual te apaixonaste e nos meus lábios nada mais se lê senão angústia. Perdi o gosto de viver, e sofro ainda mais por te ver amargurado devido a esta ignóbil situação…
Já nem sei o que é tomar uma refeição completa: as bolachas, o café e as barras energéticas fornecem-me as calorias necessárias para continuar a escrever. Sim, escrever, essa sórdida actividade que tanto repugnas pelas horas que lhe dedico, e pelo pouco que produz.
Alheei-me de ti por completo, e claro que isso acarretou consequências. E, pior, fi-lo por razões egoístas e infantis: achei que a frustração dos sonhos abdicados em prol da tua pessoa fora culpa tua. Não, não foi, tratou-se unicamente de uma decisão minha. Tu seguiste sempre as tuas ambições, eu não segui as minhas por pura estupidez.
E se, há alguns anos, adormecíamos tão próximos um do outro que passava a noite sentindo a tua respiração na minha face, agora dormes de costas voltadas para mim. Foi aqui se iniciou o processo de estagnação, certo?
Passei a recusar esses beijos que tinhas por hábito roubar fortuitamente, julgando essas trivialidades descartáveis. Fechava-me no quarto horas e horas enquanto ias sair com os teus amigos. Não respondia ao teu «amo-te». Entrei num desespero doentio, perdi as estribeiras, enlouqueci!
E rumou tudo em direcção ao fim, estamos na ponta do precipício. Por vezes, acho-te hediondo quando trazes no pescoço o cheiro de outra mulher, contudo, não te censuro. Tens vinte e seis anos e ainda és esbelto e carinhoso. E eu nunca te poderei dar metade daquilo por que anseias. É mais do que justo.
És de uma paciência infinita para comigo, e chego-me a interrogar: Porque é que ainda continuas comigo? Suportaste todas as vezes em que te menti e te escondi o que realmente se passava…. Mantiveste-te firme em todas as vezes em que insistia viver como um génio frustrado, quando na verdade não passava de um ser profundamente fútil e superficial.. Nessas minhas crises em que mergulho em abismos depressivos, nesse desdenho por tudo o que é material, nesse berreiro histérico, tu ainda me limpas as lágrimas com os nós dos teus dedos e beijas-me a face húmida. Como é que, apesar de todo o meu declínio, ainda me amas tanto?
Não encontro explicação para tamanha persistência nesta decadência de ser que sou. Não, tu não és o meu namorado, és mais como uma mãe porque cuidas e tratas de mim de forma incondicional.
Desculpa-me meu amor, desculpa-me! Eu arruinei-nos, destruí tudo aquilo que de bom nós tínhamos!
Livra-te de mim, imploro-te. Amo-te demasiado para ser eu a fazê-lo. Sou cobarde e não te sei preencher de outra forma que não através de silêncios. Deixa-me, sai desta casa amaldiçoada, vai viver tudo aquilo que perdeste para estar comigo. Recupera a tua felicidade. Eu não te mereço, nunca te mereci. Sempre soube que isto iria acabar assim. Deixa-me morrer só e moribunda. Vai, ordeno-te, vai, que preciso de exorcizar os meus fantasmas!
Eu amo-te, eu amo-te, eu amo-te!, mas quero que vás. Quero o teu bem, e nunca estarás bem enquanto estiveres do meu lado. Não lutes mais por aquilo que aparentei ser… Vai-te!
Hoje eu vou adormecer, vou regressar a esses sonhos inocentes que tinha antes desse negrume se ter apoderado de mim e, quando acordar, não te quero aqui... Nunca mais.
Eu envelheci muito nos últimos tempos. As olheiras tornaram-se residentes, o cabelo enfraqueceu, o corpo ficou flácido e as rugas entorpeceram as feições do meu rosto. O meu olhar perdeu o brilho pelo qual te apaixonaste e nos meus lábios nada mais se lê senão angústia. Perdi o gosto de viver, e sofro ainda mais por te ver amargurado devido a esta ignóbil situação…
Já nem sei o que é tomar uma refeição completa: as bolachas, o café e as barras energéticas fornecem-me as calorias necessárias para continuar a escrever. Sim, escrever, essa sórdida actividade que tanto repugnas pelas horas que lhe dedico, e pelo pouco que produz.
Alheei-me de ti por completo, e claro que isso acarretou consequências. E, pior, fi-lo por razões egoístas e infantis: achei que a frustração dos sonhos abdicados em prol da tua pessoa fora culpa tua. Não, não foi, tratou-se unicamente de uma decisão minha. Tu seguiste sempre as tuas ambições, eu não segui as minhas por pura estupidez.
E se, há alguns anos, adormecíamos tão próximos um do outro que passava a noite sentindo a tua respiração na minha face, agora dormes de costas voltadas para mim. Foi aqui se iniciou o processo de estagnação, certo?
Passei a recusar esses beijos que tinhas por hábito roubar fortuitamente, julgando essas trivialidades descartáveis. Fechava-me no quarto horas e horas enquanto ias sair com os teus amigos. Não respondia ao teu «amo-te». Entrei num desespero doentio, perdi as estribeiras, enlouqueci!
E rumou tudo em direcção ao fim, estamos na ponta do precipício. Por vezes, acho-te hediondo quando trazes no pescoço o cheiro de outra mulher, contudo, não te censuro. Tens vinte e seis anos e ainda és esbelto e carinhoso. E eu nunca te poderei dar metade daquilo por que anseias. É mais do que justo.
És de uma paciência infinita para comigo, e chego-me a interrogar: Porque é que ainda continuas comigo? Suportaste todas as vezes em que te menti e te escondi o que realmente se passava…. Mantiveste-te firme em todas as vezes em que insistia viver como um génio frustrado, quando na verdade não passava de um ser profundamente fútil e superficial.. Nessas minhas crises em que mergulho em abismos depressivos, nesse desdenho por tudo o que é material, nesse berreiro histérico, tu ainda me limpas as lágrimas com os nós dos teus dedos e beijas-me a face húmida. Como é que, apesar de todo o meu declínio, ainda me amas tanto?
Não encontro explicação para tamanha persistência nesta decadência de ser que sou. Não, tu não és o meu namorado, és mais como uma mãe porque cuidas e tratas de mim de forma incondicional.
Desculpa-me meu amor, desculpa-me! Eu arruinei-nos, destruí tudo aquilo que de bom nós tínhamos!
Livra-te de mim, imploro-te. Amo-te demasiado para ser eu a fazê-lo. Sou cobarde e não te sei preencher de outra forma que não através de silêncios. Deixa-me, sai desta casa amaldiçoada, vai viver tudo aquilo que perdeste para estar comigo. Recupera a tua felicidade. Eu não te mereço, nunca te mereci. Sempre soube que isto iria acabar assim. Deixa-me morrer só e moribunda. Vai, ordeno-te, vai, que preciso de exorcizar os meus fantasmas!
Eu amo-te, eu amo-te, eu amo-te!, mas quero que vás. Quero o teu bem, e nunca estarás bem enquanto estiveres do meu lado. Não lutes mais por aquilo que aparentei ser… Vai-te!
Hoje eu vou adormecer, vou regressar a esses sonhos inocentes que tinha antes desse negrume se ter apoderado de mim e, quando acordar, não te quero aqui... Nunca mais.
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