21 de fevereiro de 2010

Medo de envelhecer



Não me venham com tretas a dizer que 75 anos é uma idade bonita.
Vivemos numa época em que se tenta combater a velhice com todas as armas possíveis (sorte dos cirurgiões plásticos!) e onde os idosos são apenas vistos como um fardo.
Também eu sou parte integrante dessa geração que tem medo de ser velho. Não são as rugas nem a osteoporose que receio, é a indiferença dos outros, o apenas sentir-me feliz quando fizer algo de útil. Viver numa angústia desmesurada sem já poder contar com o meu cônjuge. Ficar num lar à espera da morte, nadando horas nas recordações das glórias passadas, sem ninguém que me visite ou telefone.
Parece-me que agora, enquanto jovem, é mais fácil ultrapassar a solidão: ainda palpito esperança por tudo o que é caminho a rasgar. Mas (quase) ninguém faz projectos de vida para depois dos 35 anos, e a consequência é chegar-se lá sem objectivos, apenas com frustrações dos sonhos que não se realizaram (e que, devido a diversas condicionantes, são agora impossíveis de se concretizarem).
Resta o quê, aos 75 anos? A degradação física e racional acentua-se a partir desta idade. Não me consigo imaginar incapaz de andar cinco minutos sem me cansar, ou a babar-me pelos cantos dos lábios, sem conversa que faça qualquer lógica. Cenário cruel? Para mim sim, e muito, daí que só de o imaginar me arrepio.
Não seria preferível morrer-se mais cedo?


texto integrante do projecto «Fábrica de Letras» (clique no link da barra lateral direita)

14 de fevereiro de 2010

Pré-adolescência

Hoje é dia dos namorados. Não é uma data que me faça muita comichão, independentemente de ter ou não namorado, contudo, estou particularmente nostálgica em relação a tal dia.

Passei a manhã a recordar os tempos das minhas primeiras paixonetas, lá com os meus onze, doze anos, e ri-me com as tragédias gregas que fiz de tudo aquilo na altura. Ri-me dessas borboletas no estômago que surgiam sempre que via o miúdo de quem dizia gostar. Ri-me dos primeiros beijos assolapados dados em grupo atrás da cantina. Ri-me desses pedidos de namoro em que o destino das nossas vidas ficava marcado através de uma cruzinha no “sim” ou no “não” de um bilhete sujo e amarrotado entregue sorrateiramente durante a aula.

Era a geração “Bravo” e “Super Pop”. A geração dos livros d “O Clube das Amigas”. A geração dos primeiros “Morangos com Açúcar”. Vivia-se experimentando novas sombras de olhos e o tamanho dos seios era um factor decisivo para a popularidade de cada uma. Não havia mais nada naquelas cabeças tontas senão lixo.

Só me ocorre pensar que estas criaturas, de ganchos coloridos no cabelo e de lábios encharcados de gloss, eram sem dúvidas seres insuportáveis. Ser pré-adolescente era, de facto, ridículo. E o pior é que na altura tudo isto fazia sentido.

7 de fevereiro de 2010

Sete de Fevereiro.


Eu já tinha saudades de uma manhã assim.
Quanto tempo vais tu durar desta vez na minha vida?

5 de fevereiro de 2010

A carta que te escreverei em 2020

Querido N,


Talvez deva iniciar isto com um pedido de desculpas. Tenho perfeita noção do quanto te desiludi... Fiz-te demasiado mal, eu sei, e os anos que perdeste comigo não voltarão nunca atrás…
Eu envelheci muito nos últimos tempos. As olheiras tornaram-se residentes, o cabelo enfraqueceu, o corpo ficou flácido e as rugas entorpeceram as feições do meu rosto. O meu olhar perdeu o brilho pelo qual te apaixonaste e nos meus lábios nada mais se lê senão angústia. Perdi o gosto de viver, e sofro ainda mais por te ver amargurado devido a esta ignóbil situação…
Já nem sei o que é tomar uma refeição completa: as bolachas, o café e as barras energéticas fornecem-me as calorias necessárias para continuar a escrever. Sim, escrever, essa sórdida actividade que tanto repugnas pelas horas que lhe dedico, e pelo pouco que produz.
Alheei-me de ti por completo, e claro que isso acarretou consequências. E, pior, fi-lo por razões egoístas e infantis: achei que a frustração dos sonhos abdicados em prol da tua pessoa fora culpa tua. Não, não foi, tratou-se unicamente de uma decisão minha. Tu seguiste sempre as tuas ambições, eu não segui as minhas por pura estupidez.
E se, há alguns anos, adormecíamos tão próximos um do outro que passava a noite sentindo a tua respiração na minha face, agora dormes de costas voltadas para mim. Foi aqui se iniciou o processo de estagnação, certo?
Passei a recusar esses beijos que tinhas por hábito roubar fortuitamente, julgando essas trivialidades descartáveis. Fechava-me no quarto horas e horas enquanto ias sair com os teus amigos. Não respondia ao teu «amo-te». Entrei num desespero doentio, perdi as estribeiras, enlouqueci!
E rumou tudo em direcção ao fim, estamos na ponta do precipício. Por vezes, acho-te hediondo quando trazes no pescoço o cheiro de outra mulher, contudo, não te censuro. Tens vinte e seis anos e ainda és esbelto e carinhoso. E eu nunca te poderei dar metade daquilo por que anseias. É mais do que justo.
És de uma paciência infinita para comigo, e chego-me a interrogar: Porque é que ainda continuas comigo? Suportaste todas as vezes em que te menti e te escondi o que realmente se passava…. Mantiveste-te firme em todas as vezes em que insistia viver como um génio frustrado, quando na verdade não passava de um ser profundamente fútil e superficial.. Nessas minhas crises em que mergulho em abismos depressivos, nesse desdenho por tudo o que é material, nesse berreiro histérico, tu ainda me limpas as lágrimas com os nós dos teus dedos e beijas-me a face húmida. Como é que, apesar de todo o meu declínio, ainda me amas tanto?
Não encontro explicação para tamanha persistência nesta decadência de ser que sou. Não, tu não és o meu namorado, és mais como uma mãe porque cuidas e tratas de mim de forma incondicional.
Desculpa-me meu amor, desculpa-me! Eu arruinei-nos, destruí tudo aquilo que de bom nós tínhamos!
Livra-te de mim, imploro-te. Amo-te demasiado para ser eu a fazê-lo. Sou cobarde e não te sei preencher de outra forma que não através de silêncios. Deixa-me, sai desta casa amaldiçoada, vai viver tudo aquilo que perdeste para estar comigo. Recupera a tua felicidade. Eu não te mereço, nunca te mereci. Sempre soube que isto iria acabar assim. Deixa-me morrer só e moribunda. Vai, ordeno-te, vai, que preciso de exorcizar os meus fantasmas!
Eu amo-te, eu amo-te, eu amo-te!, mas quero que vás. Quero o teu bem, e nunca estarás bem enquanto estiveres do meu lado. Não lutes mais por aquilo que aparentei ser… Vai-te!
Hoje eu vou adormecer, vou regressar a esses sonhos inocentes que tinha antes desse negrume se ter apoderado de mim e, quando acordar, não te quero aqui... Nunca mais.

3 de fevereiro de 2010

Os lençóis de flanela são os teus substitutos

Porque me aquecem quando não estás



Na tua almofada

Repousa um baixo-relevo



Não estás cá,

Alguma vez estiveste?



Durmo somente com a tua ausência

Assim como se ausentou

O teu amor



E eu aconchego-me nas nossas memórias

Ou utopias?



Sei lá se te amo

Ou se amo as minhas fantasias?

2 de fevereiro de 2010

Sentença.


Não, não mereço de todo o que me estás a fazer. A tua crueldade ultrapassou qualquer limite. Não aguento mais esta humilhação diária…

Há fins que fazem sentido, pontos finais que são mesmo necessários. Porém, o nosso é muito incoerente. Não entendo o porquê, não entendo!

Defendi-te perante todos os outros, apoiei-te sempre que necessário, sacrifiquei-me para que tu pudesses ser um bocadinho mais feliz! E tu decides, sem razão aparente, ausentares-te da minha vida!

Bem sei a opinião que formaste a meu respeito nos últimos meses. Consideras-me fútil, preconceituosa, hipócrita, completamente vazia. Mas como me podes tu julgar, como podes ser tão moralista?!

Querias tanto evitar tornar-te alguém como eu, que ainda te metamorfoseaste numa pessoa muito pior. Desvalorizaste anos e anos de amizade; criticaste as minhas relações de amizade quando as tuas se construíam apenas para me demonstrares que sabias viver sem necessitares da minha presença; mentes, escondes e enganas; tornaste-te cínica e competitiva, sem te importares com as facadas nas costas que dás. Ainda estás iludida com essa teoria de que me deitando abaixo te sentirás melhor contigo própria… Sou eu a má pessoa desta história toda? Acredita que não.

Tenho pena, sabes? Daquilo que te tornaste, daquilo que destruíste. E eu não consigo conversar contigo, simplesmente não tenho coragem! Não te quero ouvir nesse vazio de vida que te recusas a preencher!