26 de março de 2011

neura de sábado.

A minha vida sem ti pode ser muito mais vazia, mas ao menos é verdadeira.

Torre de Babel.

Sinto-me entontecer. Uma amálgama de vozes penetra-me os tímpanos e vai-me ensurdecendo com uma intensidade cada vez maior. Estou exausta, não aguento mais, quero sair daqui.

Estou farta das conversas, das intrigas, das discussões. Farta de tantas pessoas a interrogarem-me o porquê, de me atribuírem tarefas e responsabilidades como se fosse o único ser humano à face da Terra, de despejarem tudo e mais alguma coisa em cima dos meus ombros. Farta de ter de fingir que está tudo bem e de ter de aceitar a incompreensão de quem sabe perfeitamente que não está – Se se estão nas tintas para mim, porque não tenho eu o direito de me estar nas tintas para vocês?! Caramba, sinto-me a sufocar neste cubículo, dêem-me paz!

É só o que quero... Não ter mais preocupações ou chatices, não ter de responder a mais ninguém e ficar a sós com a minha dor. Afinal, é só ela que me resta...

20 de março de 2011

Meu querido pássaro azulado,

Desta árvore solitária não há mais flores ou frutos que te possam agarrar. Se és livre e tens asas para voar, porque não haverias tu de seguir viagem?




Com carinho.

13 de março de 2011

Considerações sobre a existência - II

Hoje não quis existir. É um fardo demasiado pesado que preferia não ter de carregar esta noite.

Embebida neste tédio silencioso, sentei-me em frente ao espelho. Se me observasse durante muito tempo, quem sabe se o meu reflexo não se evaporava... Ou talvez passasse a existir apenas do lado de lá, deixasse a minha matéria aprisionada neste grande vidro e esvoaçasse livremente entre todos os átomos deste planeta.

Contemplo o meu rosto lasso, magro, amarelado – do que ele precisava era de repouso eterno. Os olhos, pequeninos e mortiços, pedem para serem encerrados por um período de tempo indefinido. As rugas mostram-me que já vivi o suficiente, é inútil tentar prolongar-me.

Já chega de mim. Desejo sair de mim mesma e flutuar num nada em que não exista nem tempo nem espaço. Ou então renascer. Sim, experimentar a existência numa outra carne, num sangue que não o meu. Voltar a chorar pela primeira vez, a sorrir pela primeira vez, a caminhar pela primeira vez. Desprender-me das memórias e do conhecimento que fui adquirindo ao longo dos anos. É isso, o ideal seria reiniciar-me por completo!...

O meu reflexo continua preso no espelho – de que serviram os meus desejos e quimeras? Não tenho alternativa senão viver; não há outra solução senão respirar e arrastar-me vagarosamente pelos corredores.

00h00. Menos um dia até ao meu fim. Ultrapassei mais vinte e quatro horas da forma mais vazia e banal possível. Bem, não ter feito qualquer estrago já é suficientemente bom. Afinal de contas, mais vale insignificante e medíocre... do que nocivo e genial.

Considerações sobre a existência - I

Ontem escrevi: «Odeio já não conhecer a solidão».

Estava errada, completamente errada. Na verdade, eu nunca a conheci. O bulício das multidões, as mil e quinhentas conversas ao mesmo tempo e os encontrões em que as peles se ousam tocar tornaram-se uma adição incontrolável.

Se não há som ou toque humano que se entranhe em mim, então é um dia perdido. Um dia inexistente. Um dia em que só tive acesso à decomposição fétida da minha finitude. Já não sei respeitar o silêncio ou a ausência: o sangue quente dos que me rodeiam é o meu alimento. A vibração das suas vozes, o ondular dos seus cabelos e a energia das suas mãos passaram a ser as minhas primeiras necessidades. Há que sugar cada movimento, cada rosto enrubescido, cada troca de olhares.

Não há nada mais belo do que uma amálgama de corpos que se roçam, que ousam experimentar,nem que seja por breves instantes, a pele uns dos outros. Nessa fracção de segundos – ao entrar no comboio, ao entregar o dinheiro ao funcionário da loja, no primeiro contacto sexual – a matéria ganha finalmente sentido: fomos dotados de uma parte física para nos tocarmos, para nos avisarmos mutuamente de que existimos. É graças aos outros que existo: sem este toque, este breve instante, eu nada seria, uma vez que este toque me alerta para o facto de estar aqui, de estar viva.

Ainda que seja ilusório, que continuemos a ser tão solitários como se estivéssemos completamente isolados, os outros fazem questão de nos assegurar a maior das nossas tormentas: existimos, efectivamente.

6 de março de 2011

of course you don't care.

«O mais irónico de te ter é que, quando não estou contigo, sinto-me a pessoa mais solitária à face da Terra».