10 de abril de 2010




Anoitece e, aos poucos e poucos, a sala vai enegrecendo. Despe-se gradualmente das sombras angulosas que a habitaram e, sem elas, também a minha nudez se revela.

Tenho medo da noite e da solidão que ela ocasiona. Nesta sórdida escuridão, quero alguém ao meu lado porque tenho receio de estar apenas comigo mesma. Bem que eu podia gritar por companhia…

No entanto, acabo por optar pelo silêncio. Desejo aprender a adormecer com os beijos de ninguém. Mas não sei se vou conseguir; não existe aqui ninguém para me confortar, e está tanto frio!

Sou de novo pequenina, e não há nada nem ninguém que me possa proteger. Escondo-me, mais uma vez, por detrás dos meus caracóis castanhos, e limpo as lágrimas nas mangas arregaçadas. Lá fora, existem inúmeros perigos que anseiam pela minha vulnerabilidade. Preciso de alguém a quem dar a mão. Alguém que me mantenha segura.

Não, nada disso! Do que eu necessito é de deixar morrer esta criança frágil e indefesa que ainda arde dentro de mim, e acostumar-me a ouvir somente os meus próprios passos. Há que ultrapassar o medo de lidar com este corpo e este espírito que, no seu conjunto, formam a pessoa que sou. Destes escombros e penumbra, há-de nascer uma mulher.

Oh, já é completamente noite e deixei de ver quaisquer silhuetas à minha volta. Ainda estou aqui, encolhida a um canto, completamente só. Não conhecia, até agora, o prazer de não ter ninguém a pressionar a minha pele contra a parede. Os meus braços podem finalmente repousar, pois não têm nenhum corpo para abraçar. Não existem mais bocas para humidificar, nem desejos de outrem para satisfazer.

Esta noite, sou só eu. E é tão bom que seja assim…



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