17 de abril de 2010

Um dia entendi que haveria de ser tua amiga.

Um dia entendi que haveria de ser tua amiga. Seria algo profundamente ingénuo e inocente, afinal de contas, não estava apaixonada por ti. Na verdade, era pelas tuas mãos que eu me encontrava loucamente perdida, com esses dedos compridos e finos que pareciam querer agarrar o mundo inteiro.
Falavas mais com elas do que com o próprio olhar e, em tempos, foram o nosso veículo de comunicação. Com elas aquecias as minhas, no escuro do auditório, e fervias-me o coração.
No entanto, faltavam as palavras. Eu não entendia essa tua reserva, essa barreira que te impedia de desabafares comigo o que te atormentava. Eu desejava contar-te cada breve segundo da minha vida, fazer-te rir com as minhas peripécias, contudo, não retribuías.
Esta situação desigual agravou-se quando os olhares de terceiros em nós se fixaram e penetraram naquilo que a muito custo íamos construindo. As pressões intensificaram-se; todos queriam saber porque é que os meus olhos brilhavam tanto quando me encontrava na tua companhia. Fizeram-se más interpretações, perguntas despropositadas, comentários jocosos.
Até que, numa gelada manhã de Dezembro, os teus lábios tremeram com nervosismo e tiveram de ser as tuas mãos, mais uma vez, a responderem às minhas questões.
Apertaste as minhas frieiras como que em sinal de gratidão e impotência perante o meu pedido. Não era possível existir amizade entre nós. Teríamos de dizer adeus. A despedida era ali e naquele momento. Entrelaçámos os nossos dedos uma última vez, pediste desculpa sem um único som e eu beijei-te o rosto com ternura, adivinhando que nunca mais seria capaz de te olhar nos olhos.
E, de facto, ainda hoje não consigo.

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