31 de outubro de 2010

Bypass.

Já é tarde. Deveria acordar-te, pedir-te que te vestisses e sussurrar rapidamente:

- Vá, vai-te!

Não. Olho para a tua boca entreaberta, oiço a tuas inspirações tão profundas, toco-te os olhos cerrados e sou incapaz de te mandar embora. Apetece-me que fiques aqui para sempre. Quero contemplar esse sono tão doce e o teu corpo envolto nos lençóis todos os dias.

Existe tanta vida em ti, tanta energia e força de viver. Respiras como se cada lufada de ar fosse sagrada, como se fosse a última. Deixaste a tua mão caída no meu peito para obteres a confirmação de que ainda estou aqui, que jamais te irei abandonar.

Descansa, não teria forças para o fazer. Não me resta energia para mais nada. O que eu tinha de bom morreu e apenas permaneceu este corpo mole e inerte. Sabes lá a escuridão que tenho de atravessar para que te consiga ver. Não imaginas o esforço que é sorri-te. O quanto custa fingir que está tudo bem.

Pedes-me que não te abandone, e eu cumpro esse teu pedido. Cumpro-o porque não há coragem para te dizer adeus. Se to dissesse, eu já não estaria aqui; nem nesta minha cama, nem em parte nenhuma. É por ti que eu me mantenho aqui. Não consigo ser egoísta ao ponto de te privar da minha companhia para sempre. É graças a ti que ainda não morri.

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