13 de janeiro de 2010

O guarda-chuva


Eu vejo-a, toco-a ao de leve e dirijo-lhe um inocente “bom-dia”. Não sei se de facto ela me responde, porque na verdade não consigo ouvir nada, mas tento acreditar que sim.

Estendo-lhe o meu guarda-chuva, para que ela não se constipe, e em fúnebre silêncio se realiza todo o cortejo entre a paragem de autocarros e a escola.

Bem pressinto que ela não reparou que o fiz unicamente para a proteger, como assim exige a estima que conservo por ela, e ela continua impenetrável no seu mundo.

Sei que já nada significo, é apenas um guarda-chuva que a protege da precipitação. Até a minha simples presença lhe provoca desconforto; esquiva-se atrás de um pilar e logo de seguida, como que arrependida, regressa para meu lado.

Desvio o olhar para a calçada e ignoro a rejeição. É óbvio que ela não me irá perguntar como é que estou, ou como foi o meu fim-de-semana, ou outra banalidade qualquer. Bem vejo na impaciência abrupta dos seus passos a pressa que tem em ver-se livre de mim. A vontade que possui de conhecer o mundo para a qual a encaminhei. Eu podia tê-la mantido cativa na minha própria teia e ter-me servido dela; mas não, nada disso, preferi dá-la a conhecer a toda a gente, explorar os seus talentos e encantos, e eis o profundo agradecimento.

Arrumou-me tudo, como suporta e carrega toda a informação que lhe transmito, mas nem olhou mais de três segundos para mim. Até o guarda-chuva se encontrava inteligentemente assente num lugar próprio, e não espalhado como eu o deixara. E nem sequer falou comigo…

2 comentários:

  1. claro que adorei.
    Mais um texto teu que admiro.

    A MÚSICA É SIMPLESMENTE , L-I-N-D-A!!!!!!

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  2. Amo a música, Yann Tiersen é que é. Essa é a minha preferida dele *.*

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