13 de março de 2011

Considerações sobre a existência - II

Hoje não quis existir. É um fardo demasiado pesado que preferia não ter de carregar esta noite.

Embebida neste tédio silencioso, sentei-me em frente ao espelho. Se me observasse durante muito tempo, quem sabe se o meu reflexo não se evaporava... Ou talvez passasse a existir apenas do lado de lá, deixasse a minha matéria aprisionada neste grande vidro e esvoaçasse livremente entre todos os átomos deste planeta.

Contemplo o meu rosto lasso, magro, amarelado – do que ele precisava era de repouso eterno. Os olhos, pequeninos e mortiços, pedem para serem encerrados por um período de tempo indefinido. As rugas mostram-me que já vivi o suficiente, é inútil tentar prolongar-me.

Já chega de mim. Desejo sair de mim mesma e flutuar num nada em que não exista nem tempo nem espaço. Ou então renascer. Sim, experimentar a existência numa outra carne, num sangue que não o meu. Voltar a chorar pela primeira vez, a sorrir pela primeira vez, a caminhar pela primeira vez. Desprender-me das memórias e do conhecimento que fui adquirindo ao longo dos anos. É isso, o ideal seria reiniciar-me por completo!...

O meu reflexo continua preso no espelho – de que serviram os meus desejos e quimeras? Não tenho alternativa senão viver; não há outra solução senão respirar e arrastar-me vagarosamente pelos corredores.

00h00. Menos um dia até ao meu fim. Ultrapassei mais vinte e quatro horas da forma mais vazia e banal possível. Bem, não ter feito qualquer estrago já é suficientemente bom. Afinal de contas, mais vale insignificante e medíocre... do que nocivo e genial.

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