28 de agosto de 2009

Na-ya

Não vale a pena a chorares. Em tempos recusaste tudo aquilo que eu te quis dar. O beijo de boa noite. O diálogo. A compreensão. Uma boa relação entre nós. O tempo não vai voltar atrás, e possuo sérias dúvidas se alguma vez poderíamos ter a relação sem tabus que as novelas apregoam.
Eu já não sinto vontade de te contar como foi o meu dia. Outrora, eu chegava junto de ti e dizia-te de como tinha sido interessante a aula de Geografia, contava-te a peripécia que tinha acontecido na hora de almoço, opinava sobre a tua maneira de lidar com determinada pessoa, e tu nunca querias ouvir. Mandavas-me calar, dizias que eu te esgotava a paciência, não vias a hora para eu sair da divisão.
Sempre me desvalorizaste. Para ti os meus gostos eram horríveis e os meus interesses inúteis. Já pensaste que quando eu chegava perto de ti e dizia «Tive um 19 a História!», talvez quisesse ouvir algo melhor do que «O bem é para ti, olha!»?! A tal pessoa é que é sempre melhor do que eu, pois afinal sou uma sacana da pior espécie por te perguntar quanto tempo é que o arroz costuma levar a cozer. Por achar inútil fazer a cama se ninguém vai entrar no quarto e os lençóis não vão ser mudados. Por não ser uma expert a executar uma determinada tarefa que tu já treinas há vários anos. Afinal de contas, para ti eu sou uma falhada, para ti nunca vou tirar uma licenciatura pois sendo «uma atrasada mental» (como tu me chamaste uma vez) vou-me perder no meio de tanto rapaz na capital; nunca vou arranjar um emprego pois sou uma desastrada; resumindo, nunca irei corresponder ao elevado padrão de “mulher” que me tentas impingir.
Pois bem, que mulher posso vir a ser um dia se não penso em gastar aqueles 10euros que a avó me deu em roupa? Se não comento o corte de cabelo da Júlia Pinheiro? Se comecei a namorar demasiado cedo? Se… É melhor nem continuar.
Às vezes, quando discutimos, terminas assim: «Bem podes esquecer que eu te compre isto…». Se me conhecesses saberias que aquilo que eu mais gosto em ti não é a quantidade de coisas que me dás. E não, os beijos que eu te dou não são «fingidos». São sinal do meu amor por ti. É, apesar de tudo isto, amo-te imenso.
Sei que te magoei quando disse que não tive saudades tuas nestes dias sem ti. Mas é a verdade! Não te digo que têm sido maravilhosos, mas precisava mesmo deles. Acordar e poder assumir a responsabilidade das minhas próprias tarefas. Não ter de te ouvir a discutir comigo. Não ter de responder às tuas perguntas. Foi por isso que me quis afastar de ti por uns tempos. Mas nem isso quiseste saber. Simplesmente, decidiste amuar e chorar. Pois bem, que assim seja.
Adorava que possuísses perspicácia suficiente para entenderes que esta máscara de durona que estou a encarnar não corresponde à realidade. Serve para me proteger de ti. Como daquela vez que, a muito custo, te perguntei se tinhas orgulho em mim. Hesitaste um instante, e aí desejei nunca to ter perguntado. Tinhas demasiada vergonha para responder que não. Limitaste-te a um «ooh» e um «éque…».
Ou ainda como daquelas vezes em que eu chegava a casa num pranto, e em vez de me perguntares o que se passava, mandavas-me parar com aquilo.
Acredita que não vale a pena chorares.

Um comentário:

  1. Ja te disse. o quanto esta musica se adequa com todos os textos.
    Sinceramente esse texto é semelhante a momentos da minha vida. :S
    Enfim! Custa tanto quando realmente queremos que naquele momento alguem nos dê força , e nos meta em cima.. e na realidade dao-nos com os pés porqe talvez o mau humor os afecte.
    Sinceramente as x eh dificil perceber esta gente que nos rodeia. =)

    Bem, Continua com estes textinhos porque eu .. GOSTO!

    ResponderExcluir