A maior parte dos meus dias é vivida na sombra. Durante anos a fio, foram caindo sobre mim expectativas e mais expectativas, dizendo-me que tinha muito talento e que não me restaria outro caminho senão o do sucesso. Esta pressão tão avassaladora e a fasquia tão alta que coloquei a mim mesma fizeram-me, inevitavelmente, falhar.
Desisti de mim sem oferecer qualquer resistência e mergulhei num abismo em que pegar numa simples esferográfica era fonte dos mais tenebrosos receios. Iria ser sempre pior que na vez anterior, para quê tentar? Não valia a pena, era um esforço em vão.
Até que, depois, veio-me isto. Há mais de um ano que não me surgia. Primeiro, foi-me obrigando a escarvar o lixo dos últimos meses. De seguida, penetrou-me com toda a brutalidade possível, diluiu-se furiosamente em cada átomo meu.
- Pára de choramingar! Pára de ter pena de ti mesma! – gritou-me. – O futuro será sempre mais negro, sim, mas de que serve desistires?... Faz a pergunta mágica...
- Pergunta mágica? Que pergunta é essa?
Reflecti um pouco. Tentei lembrar-me do que tinha despoletado isto anteriormente. A pergunta é: “Que queres?”.
Quero... Quero experimentar aquilo que ainda não experimentei, continuar com as coisas que me dão prazer e fazer tudo o que já fiz e que já me soa irremediavelmente perdido! Enfiar a colher na crosta dura do pudim, sentir a tinta fresca numa tela, pisar os trevos húmidos ao amanhecer, cheirar os refogados da minha mãe! Enterrar os pés na areia molhada, saltar o mais alto que conseguir, ter uma guerra de balões de água! Sujar-me na terra fofa, calçar umas sapatilhas de ballet, disfrutar do silêncio de um bom livro, provar os lábios da minha musa! Quero devorar livros e livros e mais livros! Escrever, escrever, escrever, escrever até me doerem os dedos, escrever até à exaustão (por vezes, até consigo arriscar um verso, vejam lá)!
Sinto em mim a urgência de lutar contra as quadrículas do calendário! Estou eufórica, furiosa com esta inércia que me adormeceu durante tanto tempo, quero viver! Deixar arrumados numa gaveta ódios e rancores, dedicar-me exclusivamente à deleitosa tarefa de amar!
Amar-me a mim, a ti, a nós, a todos os que conheço e aos que nem faço ideia que existem! Quero pertencer a todos e não ser de ninguém, não desejo outra coisa senão abraçar a Humanidade inteira!...
Até aquilo regressar.
Claro que está muito bom.
ResponderExcluirMais uma vez, voltas-te!:)
É bom saber que existe mais uma pessoa a entregar um pedaço de si a todo este Mundo.
:)
Dar, dar, dar, dar.. é muito bom.
Um dia seremos recompensadas por isso, por enquanto, acho que encontras-te o teu caminho bonito!
:)
beijinhos*
adoro o texto e a fotografia!
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=Pe5dSID9aq8
ResponderExcluir