16 de novembro de 2010

M.

- Houve tempos em que disse mais do que um “adoro-te”.
Saiu-me assim, de forma simultaneamente natural e derrotada. Foi estranho afirmar que não te amava, se há tantos anos que tomava isso como um dado adquirido.
Mas, afinal de contas, eu não sei o que é o amor.
Durante todo este tempo, entre nós existiu só existiu gelo, e as nossas ternas memórias ficaram aí congeladas. Eu afastei-te da minha intimidade, e tu fizeste o mesmo. No entanto, o apoio sempre foi mútuo.
Eu dou-te sempre os bons-dias. Gosto de te ouvir falar. Preocupo-me contigo. Sempre que necessitas de um favor, eu ofereço-me desinteressadamente. Quando alguém se pronuncia sobre ti e me pede a opinião, eu sou incapaz de falar, as minhas opiniões sobre ti somente a ti dizem respeito, eu não te julgo à frente de ninguém e ninguém tem o direito de te julgar sem te conhecer tão bem como eu te conheço.
A tua casa é como se fosse a minha. Conheço a mesa da cozinha, a casa-de-banho e as camas, conheço o cheiro do teu quarto , os recados do teu quadro de cortiça e a voz da tua mãe. É como se eu tivesse voltado aos melhores anos da minha vida, aqueles em que eu te afagava o cabelo e assumia a tua amizade como a melhor coisa que eu tinha.
Não é isto amor?
Quero de volta as nossas conversas sem sentido, os longos telefonemas, os estojos riscados, os trabalhos de Fisico-Química, os karaokes ao final da tarde, as aulas de Educação Tecnológica.
Já estivemos mais longe de tudo isto e... É tão bom ter-te de volta.


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